E por fim, festejamos. A Festa Xingó de Variedades foi uma surpresa boa. Quando começamos a organizar a primeira edição, em abril de 2017, no Teatro Arthur Azevedo, bem perto de nossa casa-sede, não sabíamos direito o que estávamos aprontando. As/os aprendizes iam chegando nas práticas e dizendo: “Ah! Vou chamar tal grupo! Vou fazer cuscuz! Vou chamar um amigo poeta! Minha filha faz bolo..!” E de repente éramos enormes. Chamamos os grupos parceiros, as danças brasileiras daqui da zona leste, o teatro de mamulengo, a luta revolucionária com Beatriz Tragtenberg e seu Circo Teatro Alegria dos Pobres, a capoeira do Mestre Ananias, o sarau dos imigrantes e a Nduduzo Siba. O Grupo Cupuaçu transformou completamente o saguão do Teatro, com a exposição de figurinos, tambores e fotos dos 30 anos, o espetáculo Todo Canto Dança e uma oficina de Danças Brasileiras.

Xingó Movimenta manteve três dias de programação direta e gratuita, portões abertos, bairro colorido, bonecos, fitas e balões. Até uma fogueira para aquecer os pandeirões foi feita com ajuda dos funcionários do teatro e da coordenação, todos extremamente envolvidos na tarefa de tornar mais vivo esse equipamento cultural. O pipoqueiro que ficava na porta entrou e dançou, ao lado de nossa barraca de esfihas que serviu até comida sul-africana. Vendo o movimento, ele, que está há mais vinte anos por aqui disse: ‘Nossa, isso aqui fica igual um cemitério… Agora sim tá parecendo teatro!’ As palmas da dança zulu que se somaram às danças brasileiras, misturados com bumba-meu- boi, cacuriá , coco, samba chula, jongo, tambor de crioula e até lelê. Algumas senhoras perguntavam: “É candomblé? É religião?” E a gente dizia que era teatro mesmo, brincadeira, exercício de fazer junto.

A ideia do grupo é que possamos realizar festas anuais, em que o teatro e a dança estejam desassociadas de qualquer data religiosa específica, mas sim à necessidade humana de brincar. Recuperar o espaço do teatro como espaço do bairro, dos moradores, em relações mais humanas, proporcionando de forma gratuita, programações de alta qualidade artística e com interatividade, numa mescla do tradicional com o contemporâneo, sem restrições de idade ou experiência. Esse ano, mesmo contempladas com o fomento à dança para realização da II Festa Xingó, por conta da pandemia do COVID, tivemos que fazer a festa em um formato virtual.

Por mais que tenha sido difícil entender o virtual no meio de algo que é tão marcante pela presença e pelo afeto, realizamos um encontro muito especial, só de mulheres mestras, só de mulheres negras, com: Valquíria Rosa e Erika Moura convidando Ana Maria Carvalho, Ana Flor de Carvalho, Beth Beli e Jociara Souza. E essa foi nossa segunda edição, com mais de 800 pessoas assistindo e ouvindo as cantorias, danças e batuques.