O processo de imersão é uma espécie de treinamento verticalizado, intenso, em que há o convívio constante entre as integrantes ou aprendizes. Durante nossa trajetória, conforme o processo que estamos realizando, desenvolvemos diferentes métodos de imersão, como: viagens de 5 dias à lugares frios em que cozinhar, cortar lenha, aquecer o espaço e cuidar dos corpos era parte do aprendizado; viagens à praia de dois à três dias com caminhadas extensas em que as conversas fluíam junto com o movimento das águas; imersões em ambientes internos (casas das integrantes) em que o processo da faxina e da manutenção da casa era parte do treinamento; imersões em assentamentos onde o arar a terra, cuidar da horta e dos animais era o próprio treinamento etc. Conforme nossos espetáculos, escolhemos a ambiência. Isso nos ajuda a modificar nossas corpas e reinventar nossa estética, a cada passo. O fato de ter que se organizar dentro de algum lugar, envolvendo a alimentação, a limpeza, o cuidado e descanso dos corpos e ao mesmo tempo um treinamento específico da linguagem escolhida, faz com que o grupo se reveja em seus modos de produção e se compreenda cada vez mais.
O mais importante das imersões é conseguir se desligar do tempo que chamamos: “tempo do capital”, em que nossos pensamentos estão completamente tomados pelas atividades diárias de contas a pagar, problemas domésticos e familiares, notificações de aplicativos e tudo mais que nos tira de nós mesmas. Quando nos dispomos a uma imersão, avisamos a todas as pessoas ao nosso redor que estaremos em trabalho imersivo e por isso impossibilitadas de comunicação, e isso gera em nós um outro tempo para conversar, criar e mexer os corpos. Parece que uma boa imersão tende a ser mais efetiva que inúmeros ensaios picotados durante a semana, no meio do caos em que a sociedade nos coloca.
No caso de nosso Tekoha, fomos nesses cinco anos, desenvolvendo processos de imersão para grupos, a partir do trânsito nos espaços da casa. Os grupos iniciam o dia com alongamentos e exercícios corporais conduzidos por Erika Moura e depois, ajudam na feitura do almoço, descansam nas redes penduradas pela sala e aí há inúmeras sequências de possibilidades, a depender do processo de cada grupo: leituras na biblioteca, cuidados com a horta e jardim, trabalhos de escritório e feitura de projetos, construção de cenas, elaboração de dramaturgias… A casa vai se organizando conforme a necessidade do coletivo e temos cada vez mais estruturado melhor esse trabalho para que os grupos possam fazer residências e imersões cada vez maiores.
Aqui no Tekoha, já foram desenvolvidas imersões com grupos como: Cabaré Feminista, Buraco D’Oráculo, MST, Grupo Teatral Parlendas, entre outros… e é necessário marcarmos com antecedência esses tempos para pensar a imersão a partir da necessidade estética.