O Encontro de Mamulengo em São Paulo é o mais significativo do país em relação ao Teatro de Bonecos Popular do Nordeste. Realização do grupo Mamulengo da Folia, em parceria com o Grupo Xingó, surgiu da necessidade do registro, divulgação e da pesquisa desse teatro que é um resquício vivo da cultura oral nordestina. Trazer para o centro de São Paulo essa manifestação artística, é uma forma de promover a discussão e a reflexão de nossa cultura, num encontro entre a prática e a teoria, com pesquisadores e brincantes, para refletir a importância da forma tradicional e mostrar as variações atuais dos mamulengueiros, ampliando ainda mais essa reflexão.
O teatro de Mamulengo é bem cultural de natureza imaterial que mereceu reconhecimento como Patrimônio Imaterial do Brasil, tendo em vista sua continuidade histórica e sua relevância nacional para memória identidade e a formação da sociedade brasileira. Como teatro de bonecos, os movimentos e as vozes dos personagens são realizados pelos brincantes, manipuladores que por meio dessa figura contam histórias, criticam costumes, ridicularizam os fracos e as autoridades, explicitam crenças, vícios, desejos, medos, atualizam questões antigas e trazem à tona outras novas. Embora veiculada por um ou mais brincantes essa voz é coletiva. É a voz que ecoa no presente mas que também se constitui na tradição em diálogos com o passado. Ela é a voz do popular, do público, que com esses artistas compartilham da brincadeira, do jogo provisório, da ilusão, que se sabe, mentira tão verdadeira.
O teatro de mamulengo apresenta um caráter comunitário resultante de seu estreito e inerente vínculo com a vivência coletiva das práticas relacionadas a vida social. Não se pode negar o papel do mestre bonequeiro como criador, obviamente que inserido dentro das práticas coletivas de uma memória longa, repassada de geração em geração. Esta forma de expressão apresenta-se como enorme relevância tanto no que diz respeito a seus aspectos estéticos, quanto em relação aos sentidos que o produzem nas e comunidades que o partilham, seja no interior nordestino ou nos grandes centros urbanos.
O Brasil é o único país das Américas que apresenta um patrimônio desta natureza, ou seja, uma tradição teatral encenada por bonecos, realizada por artistas populares, que perdura no tempo, profundamente enraizada na vida social e que ainda hoje encontra e produz sentidos nas comunidades. Tradições de teatro de bonecos que se igualam a esse bem que se quer proteger, não propriamente nas suas configurações mas em importância pelos fatores descritos acima, atualmente só encontramos em alguns países do oriente e na Europa, alguns deles estão registrados como patrimônios mundiais pela UNESCO. É significativo portanto a importância do teatro de bonecos do Nordeste, tendo em vista sua continuidade histórica, a relevância nacional para memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira.
Já há quatro anos a cidade de São Paulo não recebe o Encontro de Mamulengo, por falta de verba para sua realização.
O I Encontro de Mamulengo em São Paulo teve dez apresentações com rodas na praça do Patriarca sempre de 200 a 400 pessoas, o que totalizou uma média de 3.000 espectadores nas apresentações. Nas Rodas de Prosa que se deram no Centro de Memória do Circo, na Galeria Olido, havia em média sempre 40 ou 50 pessoas, em conversas sobre a técnica e linguagem da brincadeira.
O II Encontro de mamulengo em São Paulo teve treze apresentações na Boulevard São João para um público de 200 a 400 pessoas por apresentação, o que totalizou em média 4.500 espectadores nas apresentações. As Rodas de Prosa, no Centro de Memória do Circo reuniram em três dias mais de 200 interessados, fazedores de teatro, estudantes, mestres, intelectuais e passantes da rua que quiseram participar das discussões.
O III Encontro de Mamulengo em São Paulo, (ganhador do prêmio Cooperativa Paulista de Teatro 2012) instalou no Boulevard São João um caminhão-palco com estrutura de som, iluminação, tendas e cadeiras, escolha que possibilitou mais comodidade aos mestres populares e maior acesso ao público, que podia ver três ou quatro brincadeiras seguidas, sem a dificuldade do sol intenso ou da falta de espaço. Isso transformou o Encontro num grande acontecimento que reuniu uma média de 12.500 espectadores em sete dias, com 21 apresentações e cinco rodas de prosa que incluíram debates importantes sobre as políticas públicas do país, o teatro de bonecos popular e a manutenção desta brincadeira nos dias de hoje, contando com a presença do Núcleo Paulistano de Pesquisadores em Teatro de Rua, de Illo Krugli, Fernando Augusto, Alexandre Mate, e diversos outros mestres e brincantes de todo país e de Portugal, Cuba e Argentina.
O IV Encontro foi feito sem nenhum edital ou verba pública, o que quase inviabilizou o evento, mas pela força de vontade de mestres de todo país que vieram sem cobrança de cachê e do Grupo Mamulengo da Folia que dispôs de trinta mil reais de seu trabalho, tivemos dois dias de apresentações, com dez mestres, e 3.500 espectadores.
O V Encontro, com apoio do Proac, FUNARTE e prefeitura, retomou a estrutura do caminhão-palco e teve 20 mestres, com artistas de Portugal com o boneco Dom Roberto, derivação do mamulengo. Em quatro dias, ampliou seu alcance para o município de Guarulhos no I Encontro de Mamulengo em Guarulhos e iniciou os shows musicais, continuando as rodas de prosa e oficinas, atingindo uma média de 9.500 espectadores.
O VI Encontro foi realizado em frente à Praça dos Correios e contou com 26 mestres, duas rodas de prosa, dois shows musicais e uma Solenidade de Comemoração do Brinquedo como Patrimônio Imaterial, que reuniu autoridades de todo país, incluindo o Secretário de Cultura Nabil Bonduk que referendou o Encontro como parte do Calendário Anual da Cidade e destacou sua importância para nossa cultura, expondo o desejo da Secretaria de que o Encontro se expandisse para as periferias e equipamentos culturais da Secretaria. O número de espectadores desse encontro chegou a 12.500 espectadores.