O processo de formação e de educação popular sempre esteve presente no trabalho do grupo Xingó. O compartilhar de nossos procedimentos e ferramentas é uma forma de sociabilizar conhecimentos preciosos que se mantém às vezes apenas em espaços pagos e/ou regiões centrais da cidade. Pra nós, revisitar os materiais, em contato com aprendizes, é também re-aprender, etapa essencial ao processo estético e como atuadoras. Um momento em que o grupo se observa de outras maneiras, potencializando as habilidades de cada integrante e somando forças na criação dessa universidade popular e nada institucionalizada. Todo grupo é uma escola e nossa casa-sede é um espaço de aprendizado em sua própria estrutura e modo de vida, mas aqui nesse ‘sítio’, organizamos três principais treinamentos que costumamos realizar por aí, estrada fora.
Sobre as ferramentas do contato improvisação: A trajetória desse pensamento/treinamento está intimamente relacionada aos processos de consciência corporal, estudos técnicos e da linguagem da improvisação. Através dessa visão e experiência do mundo é que podemos desenvolver um corpo competente, aberto, esponjoso e livre. Em contato com o corpo, com o corpo do outro, com o chão, com o espaço… Desenvolver um corpo leve, ágil e consciente, capaz de dançar/atuar o fluxo de uma improvisação/jogo/composição. A partir da prática/técnica da improvisação e da linguagem sensorial do toque, peso, deslize, pressão, apoio, através de rolamentos do Aikido, do Contato Improvisação e da transferência/troca de peso que leva aos carregamentos. É uma possibilidade, pública, de todos poderem se expressar e desenvolver sua autonomia em andar, pular, rolar, deslizar, cair e significativamente se reinventar gerando e contaminando outras formas de estar e ocupar um espaço. É uma prática que além de potencializar as atuações estéticas vai na contramão de um sistema que oprime, reprime, condiciona, automatiza, massifica e aliena os sujeitos de suas capacidades de presença, ação e interação. O Sistema estudado e focado é o Esqueleto e a Respiração/energia. A partir da estrutura óssea pesquisamos direções das fibras do músculo, relaxamento e equalização de energia no tônus da musculatura, alongando a nossa propriocepção. Desenvolver um corpo presente disponível e pronto para responder ao aqui-agora da Cena/ Composição e uma noção refinada/aguçada de Tempo/Espaço. Treinando repertório/vocabulário de movimentos à partir do osso, para se mover pelo peso e articulação, relaxando o tônus muscular.
Ferramentas pesquisadas: esqueleto, músculos, respiração/energia, orgão/ fluídos/ líquidos do corpo e percepção do tempo/espaço.
Dentro do Grupo Xingó, misturam-se duas escolas de formação em palhaçaria. A escola europeia do clown, a partir de mais de vinte anos de trabalho da integrante Erika Moura com a Mestra Cristiane Paoli Quito e sua pedagogia com a comicidade, e a escola da palhaçaria clássica dos palhaços tradicionais mais focada no universo pilhérico brasileiro, a partir dos estudos e práticas da integrante Natália Siufi com o mestre Mário Bolognesi e sua vasta pesquisa nos circos brasileiros. Com a trajetória de mais de quinze anos de teatro de rua, a partir da criação do Grupo teatral Parlendas e da articulação na Rede Brasileira de Teatro de Rua, Natália Siufi foi aos poucos, em parceria com o Grupo, formando um material de treinamento para uma atuação de rua e pautada na comicidade.
Material Base Utilizado: Um fichário de 50 jogos cômicos e um pequeno estudo acerca da palhaçaria, desenvolvida por Natália Siufi e Juliana Arapiraca, em 2009. Jogos e exercícios desenvolvidos a partir da pesquisa de Erika Moura com Cristiane Paoli Quito.
Sobre as ferramentas da oficina: Fazer com que as(os) aprendizes tenham maior consciência corporal, se relacionem melhor com as pessoas, aprendam técnicas da linguagem cômica popular e conheçam um pouco mais da cultura tradicional circense. O contato com a linguagem cômica traz uma maior percepção do espaço, uma necessidade de rapidez de raciocínio, de condicionamento físico, de atenção e concentração, vários elementos que podem ser agregados ao cotidiano para uma melhor qualidade de vida, independente da profissão ou da atividade da(o) aprendiz. Os objetivos com a turma são: o entendimento dos princípios básicos da linguagem cômica; o melhor condicionamento físico e consciência corporal; o despertar de outras formas de construção da cena que não as hegemônicas dadas no drama; a criação de pequenos esquetes cômicos em duplas ou trios no final dos treinamentos;
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